CRÔNICAS DE OUTRO ESTRANHO

          Ninguém deveria conhecer a sua dor. Ninguém deveria conhecer o seu íntimo: o seu cheiro, o seu gosto, o seu jeito. Ninguém que não deveria cessar a angústia de tê-lo e deseja que vá embora. E saia pela porta carregando todas as suas bugigangas, o seu ronco e a sua fala enquanto dorme, sonhando com a estupidez da noite anterior.

*

          Hoje estou na sua cama e quero chorar enquanto durmo. Vejo como seus braços cobrem quase todo o meu corpo e como suas coxas me carregam no colo. Tudo acontece enquanto meu coração bate em repúdio ao seu corpo, até você começar a roncar e eu saberei que é hora de deixar o travesseiro. Ou eu poderia dormir no chão, corrigindo minha postura em linha reta, me esgueirando lentamente até a porta.

*

          Insone, contorço meus lados pela cama com a janela acima da cabeça, tal janela que nunca verei o sol nascer e não me importo. Irei embora antes do amanhecer. O que quero daquela janela é que sirva de canal para arejar o ambiente enquanto fumo, - aqui não posso - porque o cigarro cheira mais a minha presença. Foi quando soube que nunca fui bem vindo, já que não me importo com seus incensos baratos.